Por João Pedro Cardoso
No próximo dia 14 de abril, a Escola Estadual “Carmelo Mesquita”, única escola de nível fundamental e médio do distrito de Marilândia, completa 55 anos. O local homenageia, há mais de cinco décadas, um cidadão itapecericano importante para sua época.
Carmelo Mesquita nasceu em 10 de novembro de 1872 e era o primeiro filho de Francisco José Pereira Mesquita e Maria Felícia de Araújo Mesquita. Teve quatro irmãos: Ermínio, Alvarino, Maria Carolina e João Mesquita. Foi criado pela avó, que deu cuidadosa educação ao neto, e como sempre demonstrou habilidades para a música, tornou-se um mestre e tempos depois estreou como requintista e violiolinista da Corporação Musical Nossa Senhora das Dores. Após as primeiras letras, matriculou-se no colégio São Bento, de Cônego Cesário.
Ainda jovem, fundou o Clube Dramático com João Araújo, José Pires, Bento Ernesto Júnior e alguns outros. O Clube alcançou reconhecimento e fama, o que possibilitou apresentações em cidades vizinhas.
Em 31 de agosto de 1894, foi nomeado pelo Capitão Américo Gomes Barbosa, que era tabelião do 1º ofício de notas e diretor da Corporação Nossa Senhora das Dores, escrivão de Registro Civil da Comarca e daí nasceu o namoro com América, filha do capitão. O casamento foi celebrado em 14 de setembro de 1898, com direito a muitas festividades que duraram dois dias. Estiveram presentes na comemoração as Corporações Musicais Carrara e Catimbaú. Haviam também três salas de dança: uma no sobrado do Capitão Américo, outra na varanda e mais uma no terreiro, para o povo. Os noivos fizeram residência na mansão do Capitão Américo e a família logo aumentou com a chegada de Maria Carmelita (Bizia), Josaphat, Carmelo, José e Efigênia.
O homem que leva o nome da escola de Marilândia também era fotógrafo amador e foi irmão fundador da Santa Casa de Misericórdia. Manteve, por muitos anos, contato com o maestro João Pequeno, de São João del Rei, através do amigo Bento Ernesto Júnior (Bentuca), e desse contato várias peças sacras e profanas foram trazidas para o acervo musical da Corporação Nossa Senhora das Dores.
Ficou casado por pouco tempo. América faleceu em 23 de fevereiro de 1907 e sua morte foi muito sentida. Assim, se dedicou ainda mais aos filhos e, nas horas vagas, lecionava música. Alguns alunos vinham de cidades vizinhas para partilhar com os jovens locais os ensinamentos do maestro.
Em 28 de janeiro de 1911, casou-se novamente com Maria Blandina Rabelo, filha de Sebastião Rois Rabelo e Maria Antunes Rabelo. Dessa segunda união nasceram: Amair, Alcir, Hélia, Maria de Lourdes, Clélia, Francisco, Plínio, Antônio Carlos, Ildeu, Geralda, Pedro Américo, Cassiano, Sebastião e Carlos Gomes.
Foi pioneiro na fabricação de vinhos e em 1912, alugou um vinhedo de seu compadre, Cel. Epaminondas Cincinato de Senna, fundando uma fábrica de vinhos finos que recebeu o nome de Monte Carmelo. A produção concorreu a prêmios na Exposição Nacional que aconteceu no Rio de Janeiro em 1922, ganhando diploma de honra, medalha de ouro e bronze, nos tipos tinto, branco e rosê.
Em 5 de abril de 1919 foi nomeado Coletor Federal e criou um Slogan: Querem lesar o fisco? Paguem o fisco!
Anos depois fundou uma orquestra com nomes já conhecidos como dona Nanana Corrêa, Cesário e Totonho Mendes, Eurico Cerqueira, dona Antonieta Magalhães Gomes e dona Zeca Barbosa. A formação ficou famosa pela qualidade de suas apresentações.
Carmelo também gostava de pôquer e costumava jogar com seus amigos dr. Lamounier Godofredo, Altamiro Pereira e dr. Jefferson Ribeiro.
Se aposentou em 1940 e dedicou o resto de seus anos a assistência à pobreza, à zeladoria da Semana Santa e à educação do neto Antônio Claret, que perdeu a mãe ao nascer. Começou a sentir as consequências da hipertensão arterial e tudo que queria era ver o filho Antônio Carlos ordenado padre.
Carmelo Mesquita morreu em 21 de maio de 1947 sem ver o filho se tornar padre. Antônio Carlos foi ordenado em 8 de dezembro do mesmo ano.
Referência: Livro Itapecerica, Sua Fé, Sua Música de Dom Gil Moreira Constantino Barbosa (1984).
Gostei muito do relato que nos possibilita conhecer melhor este grande homem que é homenageado pela escola de Marilandia, que leva o seu nome. Através desta biografia, podemos constatar que o personagem merece realmente as honras de ter seu nome identificando uma escola.
Por outro lado, me chama a atenção o seu sobrenome Mesquita por ser um dos sobrenomes de minha família paterna. Vou enviar este relato para uma prima FATIMA MESQUITA LARA, escritora para enriquecer os dados que compõem seu livro de genealogia. Obrigada, a todos os que contribuíram para o levantamento destes dados tão importantes. E parabéns pela correção do texto.