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Queima do Judas, entre o Santo e o Profano

A Semana Santa é uma época envolta de muitos mistérios e crenças. De Ramos à Pascoa, o mística da fé católica acontece, misturada com tradições que foram incorporadas ao longo dos anos, em Marilândia. Em palavras de Lázaro Barreto (1995), o Sábado Aleluia é o dia profano da Semana Santa. Os jejuns terminam, as cores vibrantes voltam, o ar solene dos dias ensombrecidos, vai embora.


À tarde, como uma comemoração do bem que vence o mal, a figura bizarra de Judas percorre as ruas (naquela época, nas costas do Geraldo Barbosa), como um rito que precede a queima do primeiro traidor. “O Toneco sobe no tamborete, limpa a garganta, estufa o peito, emposta a voz e desenrola as folhas de papel almaço:”


Há alguns anos, essa tradição não acontece. Em 2023, deve voltar novamente. Independente da época, sempre há uma pergunta: quem foi o danado que ficou sabendo das fofoca tudo da Marilândia pra colocar no testamento? Para descobrir, a conversa foi com o Tonho do Cicinho e com o Raimundo Nurico.


Foi aí que tudo virou uma anacronia de presente, futuro e passado: as lembranças da infância, enovoltas de um tom de saudade, contaram como era no tempo de criança. “Eu era molequinho e vinha na festa com meu pai (...) e aí era o Barbosa que botava fogo. Quando eles terminava o atestado lá (...), o povo batia palma, a banda tocava. Na hora da despedida, vou deixar de prosa, bota fogo, Barbosa! Passava aqueles dia, era briga de home com muié, por conta do testamento, porque eles sabia dos problema. (...) Tinha home que nem lá perto num chegava!”, disse Raimundo.


Quem pôde acompanhar a leitura do testamento, sabe que os versos eram sempre muito tranquilos.


Depois desses causos todos, a dúvida ainda fica: quem era a pessoa responsável pela brigaiada toda? Eu que não gosto de fofoca, fui procurar saber e o Tonho me contou. Neste dia, o Fábio, irmão dele, também estava presente.


“Eu inventava, uai! Eu toda vida gostei de escrever, até poema a gente, de vez em quando, escrevia.”, disse Antônio.


Fabinho ainda completou:

“Hoje que fica mais exposto, mas, na época, ficava assim: quem que escreveu? Ah, foi fulano. Não, foi ciclano."


Antônio:

“Ah, eu alembro demais que eles faziam muito pro seu avô (João Sapateiro). Ih, ganhava demais! Cueca, esses trem assim. (...) Aqui, nós tem o João do Bento e tem o Conde e aí eu fiz um verso mais ou menos assim, sabe? Aqui nós temos o Duque e aqui nós temos o Conde, mas tem hora que eles some e a gente não sabe onde eles esconde.”


Ainda na prosa, ficou assuntado a publicação de um livro com histórias de infância, que de certa forma, também se misturam com a história do distrito. O Judas ainda pede pra avisar: no Sábado Aleluia desse ano, vai ter queimação às 21h em frente à rodoviária.


Produção: Sebastian Bauxita

Texto: João Pedro Cardoso

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